Semana passada, passando pelos corredores de um shopping do Rio de Janeiro, uma cena – cada vez mais rara – me chamou a atenção. Dentro de uma (igualmente rara) loja de venda de CD’s, havia uma verdadeira disputa por exemplares, em todas as prateleiras. O motivo? muito simples, e um cartaz colado na vitrine explicava tudo:

“Queima total de CD’s. 1 por R$ 7, 3 por R$ 15”.

Entro na tal loja e encontro títulos recentes de Simone, Ivan Lins, Lenine e Zélia Duncan em liquidação, e uma clientela consumindo sem parar (e eu mesmo me incluo aí). Eu, que já conhecia a loja há anos, de imediato estranhei a ausência dos habituais vendedores, que prontamente atendiam a qualquer pessoa que entrava.

Enfim: quando chego ao caixa para pagar os discos que escolhi, sou atendido pelo dono do local, que mantém, no mesmo shopping, uma filial da mesma rede – onde, logo em seguida, verifiquei que também fazia a mesma promoção – e o pergunto sobre o motivo daquela queima de estoque.

A resposta foi curta e objetiva: ” – Estou fechando as portas”.

A realidade é dura, nua e crua: a crise no mercado fonográfico vem, ao longo dos últimos anos, afetando a todos que um dia sonharam viver… de música. Tal crise, de conhecimento público há tempos, afeta músicos, cantores, compositores, estúdios, gravadoras e todo um aparato existente na produção de um disco. E também chegou a quem os comercializava, provocando o desaparecimento das tradicionais lojas, tão comuns em qualquer comércio até o início dos anos 90, época em que os CD’s deram lugar aos antigos discos de vinil.

Hoje, para se conseguir um CD ou DVD – que não seja aquele do cantor que está em primeiro lugar nas paradas de sucesso, se apresentando diariamente na TV ou que tenha a música inserida na trilha da novela das oito – é preciso tempo e paciência. Artistas tidos como “sofisticados” tornaram-se exclusividade de livrarias, como a Saraiva e a FNAC, ou lojas virtuais, como o Submarino. Os grandes magazines restringem-se a oferecer os nomes mais tocados nas rádios (a preços exorbitantes, se comparados há poucos anos atrás) ou centenas de títulos de catálogo das gravadoras, “a partir de R$ 9,90”, um sucesso que, recentemente, colocou o “Acústico MTV” do grupo Kid Abelha, lançado há quase cinco anos, na lista dos CD’s mais vendidos do país.

Neste caminho o consumidor, que gosta de música mas que está com pouco dinheiro no bolso acaba mesmo por buscar outros recursos. E é aí surge o personagem tido como o “grande vilão” deste drama catastrófico: o camelô, que oferecee a cópia mal feita do CD que custa R$ 29 por… R$ 3. Por outro lado, a tecnologia entra em cena, através dos sites peer to peer (ou p2p, ou, resumidamente falando, portais onde é possível trocar qualquer tipo de arquivo). Surge então o mp3, formato preferido dos jovens – aqueles que sempre foram os principais consumidores de música no mundo – em seus tocadores de música e, agora, em seus celulares também.

Mas afinal, existe salvação – ou uma sobrevida – ao formato CD? há cerca de duas semanas, a Sony Music acenou com uma alternativa a estes tempos difíceis: lançou o novo álbum da cantora Vanessa da Mata em uma nova releitura do single (ou, voltando um pouco mais no passado, na boa e velha filosofia do compacto duplo, sucesso nos anos 60 e 70). Do disco de Vanessa, chamado “Sim”, foram pinçadas cinco das 13 canções, e colocadas em um novo modelo, apelidado de “CD Zero”, que sai de fábrica com preço sugerido: R$ 9,90, enquanto que o disco completo é oferecido a R$ 24,90 em boa parte dos pontos de venda.

A promessa da major é que, a cada lançamento, uma versão simples do CD tradicional chegue também às lojas. Para lançar este novo-velho formato, a campanha publicitária foi direta: em cartazes espalhados em diversos pontos de ônibus do Rio de Janeiro, a promessa estampada de vender o disco original pelo preço que o “pirata” o comercializa no mercado popular da Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, um tradicional reduto de comercialização de produtos falsificados.

Para reduzir o custo, o CD Zero da Sony Music vem acomodado em caixa slim, com capa simples, sem as letras das músicas. E uma pergunta paira no ar: entre comprar o CD original com cinco músicas, e comprar o falsificado com as 13, qual será a preferência do consumidor, ainda mais se pensarmos que o produto “genérico” custa menos de R$ 9,90?

Retornando ao caso original – da loja do shopping com fechamento anunciado – surge mais uma pergunta: se as gravadoras oferecessem o CD original, completo, a preços mais acessíveis, será que alguém compraria o falsificado, de baixa qualidade, sem créditos, encarte, fotos etc?

Em resumo: como será o futuro da música enquanto produto? Como será que consumiremos a obra de nossos artistas preferidos em poucos anos? Será pela compra de músicas pela Internet, através de downloads autorizados? Será a inserção de música em cartões de memória? E onde ficam a capa, contracapa, fotos, letras, ficha técnica…? Não sabemos. Desta novela, temos de aguardar os próximos capítulos. O lamentável é constatar que as gerações futuras não serão apresentados ao tradicional vendedor de uma tradicional “boa casa do ramo”.

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